O Frio na Barriga e a 1ª Experiência

Este texto conta, em uma leitura de 5 minutos, as ansiedades vividas pré experiência com o MoE em sala de aula e minhas observações após a experiência. Se você pretende experimentar o MoE em algum momento, vale a leitura!
Amanhã vou ter minha primeira experiência como aplicadora do MOE. Após tantos treinamentos, tanto ler a respeito, tanto explorar como uma sessão pode acontecer, escrever sobre, explorar situações, ver MOE sendo aplicado por outras pessoas, amanhã será um grande dia.
Não nego estar nervosa, mas fiz meu planejamento, estou confiante. Sei que para todos os educadores que já passaram por esse momento, a primeira experiência pareceu bastante frustrante. Espero que a minha não seja. Espero poder abrir caminhos para os professores continuarem o trabalho. Sei que isso será difícil porque nenhum deles jamais ouviu falar de MOE, mas quem sabe não se interessarão? Sem a primeira pedra, nada sai do lugar.
Dois desafios me preocupam bastante: primeiro a língua. Já estou bem segura no inglês, mas nunca se sabe o quão nervosa ficarei a ponto de perder as palavras. Segundo, a idade das crianças. O grupo é misto, composto por crianças de 3 a 5 anos. A idade é difícil, mantê-los atentos será sem dúvida outra complicação, mas acredito que eles se interessarão bastante pesa sessão que preparei. O tema é animais uma vez que eles andaram explorando uma história com a professora deles. Vamos organizar um ‘orfanato de animais encontrados’. Como tudo acontecerá, dependerá mais deles do que de mim, mas estou confiante.
Agora é esperar pra ver no que vai dar. Depois mando notícias por aqui.
Uau. Alguns dias já se passaram pra eu conseguir entender o que aconteceu na sessão com as crianças. Acho que o resultado foi bem legal, e me senti muito feliz quando, em um papo após a sessão com a professora, ela disse que a garotinha (de 3 anos!) que mais participou, tomando a frente nas decisões e realizando tarefas ativamente, simplesmente “Não é muito de conversa” nas palavras da professora.
Quer queira quer não, foi uma conquista e tanto. Já imaginou quantas crianças não se sentem à vontade pra falar dentro da sala de aula? Quantas delas se sentem repreendidas por aqueles(as) que falam de mais e nunca deixam espaço pro tímido, pro introvertido, pro carente?
É impressionante como muitos educadores bloqueiam as crianças de pensar e expressar o que querem. Vi muitos professores sendo esses “alunos” que não dão a voz ao outro. Acredito que isso muitas vezes acontece intuitivamente. Foi assim que eles (os professores) foram ensinados, então será assim que eles ensinarão. Estou muito animada com uma nova geração de professores que deixarão as crianças terem voz e serem ativas no aprendizado.
Retomando o “por quê” desta publicação, a sessão aqui em Londres foi muito importante pra mim enquanto educadora principalmente pelo fato de ver que ainda que em inglês, é possível trabalhar com crianças. Elas muito se interessam inclusive pela diferença de culturas e tudo mais. O grupo não era muito grande, 13 crianças. A professora e o diretor estiveram presentes quase todo tempo, o que é comum em uma sessão de MoE: adultos assistindo e sendo convidados a participar.
Nosso “time de experts” era composto pelas crianças que eram especialistas em organizar lugares para animais. Eles ajudaram um amigo meu, que tomou vida pelo telefone imaginário. Este amigo seria demitido se o lugar onde ele trabalhava recebendo animais encontrados nas ruas não fosse reorganizado. Desenhamos a bagunça do lugar, conversamos mais uma vez com meu ‘amigo’ e “fomos” até o escritório dele para colocar as coisas em ordem. Carregamos caixas com animais dentro, empilhamos, limpamos e tudo mais. Tudo seguindo a criatividade das crianças que iam me dizendo que os animais que estavam nas caixas que eles carregavam estavam dormindo, eram leões, tigres, macacos etc. Na verdade, a ida até o escritório foi de ônibus (imaginário), mas o nosso tinha 2 motoristas. As caixas eram caixotes de madeira vazios que eles tinham no pátio. O escritório, era a área de brinquedos. Enfim, a imaginação não tem limites, e as crianças seguem cada uma das ideias que advém deles mesmos. Eu só as guiei em torno da narrativa da estória criada.
Enfim, foi um dia cheio de diversão, onde aprendi com as crianças vários animais, como organizar um local, como trabalhar em time, como expressar os pensamentos e muito mais. Ótimo primeiro passo. Agora estou ainda mais entusiasmada de tentar o MOE no Brasil!
Escrito nos dias 16 e 22/11/11 e revisado em 14/08/17
2017-08-15T14:27:22+00:00