De Pedagoga ao conhecimento do MoE

Esta leitura leva 5 minutos, e conta em poucas linhas minha trajetória desde a decisão em ir para o exterior em busca de novos caminhos, até o momento em que recebi a triste notícia do falecimento de Dorothy Heathcote. Se você quer conhecer a incrível metodologia do MoE, aconselho lê-la. Aproveite!
Um pouco de como a vontade de educar retornou à minha mente
2010- Ano em que a vontade de descobrir uma nova maneira de utilizar o teatro que tanto me é familiar começou. Após concluir o curso de pedagogia e tornar-me professora oficialmente e após terminar a pós graduação em arte-educação, percebi que ainda não tinha encontrado e elo que faltava. Fazer uso do teatro em sala de aula era pra mim mais do que ensaiar pequenas esquetes com os alunos para se apresentarem aos pais. Era mais do que aplicar jogos teatrais. Tinha que existir uma maneira de ensinar usando teatro.
Foi então que fui aceita para o mestrado em Londres de Applied Drama. O curso, sem querer, abriu portas para que eu descobrisse uma autora que nunca tinha ouvido falar: Dorothy Heathcote. O trabalho dela é exatamente o que eu pensava, mas não sabia explicar direito. Ela utiliza a dramatização em sala de aula como um recurso para mediar o ensino do currículo.
A ideia muito me interessou, e comecei a buscar mais sobre tal autora e seu trabalho. Num golpe de sorte fui aceita em um workshop que seria liderado por ela em março de 2011. Conheci-a pessoalmente, ela já em seus 85 anos de idade mas ainda muito lúcida e sábia nas explicações. Conheci também seu fiel escudeiro, Luke Abbott, senhor que aprendeu com Heathcote durante mais de 30 anos e que agora se dedica a ensinar a metodologia pelo mundo afora (como por exemplo, na Palestina e China).
Foi ele quem me aceitou como sua “seguidora”, para assistir às sessões que ele fazia, como professor convidado, em várias escolas da Inglaterra. A metodologia que eu tinha lido nos livros e vinha estudando desde o ano anterior, começaram a fazer sentido em minha cabeça. Entender um método que é praticamente todo prático através da leitura de livros, convenhamos, é deveras um desafio.
Desde então, continuei em contato com Luke, e em junho de 2011 pude rever Heathcote em um outro workshop, desta vez dedicado aos professores palestinos que se encontravam na Inglaterra para compreender melhor a aplicação do MOE. Após este workshop, tive a chance de conversar pessoalmente com ela, só que a conversa gravada se perdeu devido aos barulhos dos outros colegas que ainda se encontravam no recinto. Foi então que, após tentar ouvir a entrevista gravada sem sucesso, resolvi tentar outra aproximação, e por telefone, agendei uma entrevista com Dorothy Heathcote em sua casa em Spondon.
Meu querido amigo Danilo Pschera me acompanhou, encarregado da filmagem  (dessa vez o serviço seria profissional, eu não podia errar!) e áudio da entrevista, e no dia 12 de julho de 2011 pude entrevistar Heathcote, cheia de perguntas e muito ansiosa para ouvir suas respostas. Ela, já muito doente, tinha acabado de retornar do hospital onde tinha feito mais uma transfusão de sangue. Ainda assim, foi totalmente receptiva, e manteve-se ativa por duas horas e meia! Entre casos e respostas cheias de convicção, enchi-me de felicidade ao voltar para casa com a entrevista gravada e as respostas que sobrepuseram minhas expectativas.
Após a entrevista, escrevi minha dissertação inspirada pelas palavras de Dorothy e pela metodologia por ela criada, MOE (Mantle of the Expert- O Manto do Especialista), pela qual recebi o resultado A. O trabalho ressalta as potencialidades do MOE para ser aplicado no Brasil. Além disso, participei do treinamento básico e avançado com a equipe nacional que continua a difundir o MOE e a preparar praticantes para aplicá-lo.
Hoje, com o coração cheio de tristeza, descrevo e me recordo do quanto o trabalho desta ilustríssima figura inspirou-me e ainda inspira-me a continuar e tentar levar ao Brasil o que com ela aprendi. Dia 08 de outubro de 2011 Heathcote faleceu. Pouco tempo antes de receber da Rainha Elizabeth o MBE (Member of the British Empire) como reconhecimento por seu trabalho. O prêmio foi entregue à sua neta de 10 anos.
Escrito em 09/11/11 e revisado em 14/08/17

2017-08-15T14:27:43+00:00